O que toda bailarina deveria saber
Livro “Ballet: meu primeiro livro”, de Darcey Bussell
Para aprender o ballet, não basta dançar. É preciso entender a teoria.
O livro de hoje é direcionado ao público infantil, mas bem que pode ser útil a bailarinos de qualquer idade. “Ballet: meu primeiro livro” é uma obra que traz um panorama geral sobre conhecimentos básicos que toda(o) bailarina(o) deveria ter.
Será que basta saber os passos para se considerar um bailarino? Com que idade se recomenda dançar nas sapatilhas de ponta? O que é a dança à caráter? O que é a Notação Benesh?
Essas e outras questões relevantes são respondidas nesse livro.
Vem conferir comigo!
Antes de dançar
Para seguir uma sequência lógica, nas primeiras páginas do livro a autora faz algumas considerações gerais importantes.
Antes de fazer uma aula de ballet, a menina deve estar de cabelo preso, usar collant, saia curta e sapatilhas de couro, lona ou cetim, com elástico ou fitas.
Por se tratar de um livro escrito em parceria com a Royal Ballet School, a autora recomenda o uso de meias curtas até os 11 ou 12 anos, para facilitar a visão do professor, o qual deve observar se a aluna está movimentando a musculatura adequadamente (para quem não conhece o método inglês, o uso das meias curtas é um traço conhecido da Royal).
Já os meninos devem vestir shorts e camiseta e, quando mais velhos, meia-calça sobre collant ou camiseta, ou uma malha inteira. Meninos também usam sapatilhas de couro ou lona com elástico (sem fitas).
Nessa primeira parte do livro, há um pequeno guia ilustrado de como costurar e amarrar as fitas da sapatilha. Também há a sugestão de se ter uma caixa organizadora para armazenar elásticos e fitas extras, grampos de cabelo e um kit de costura.
Outro detalhe importante é a recomendação de não se usar joias ou bijuterias, que podem não apenas rasgar a roupa, mas até arranhar e machucar um colega.
Primeiros passos
Uma vez na aula de ballet, o que você deve saber?
Primeiro, as posições básicas de pés e braços. Primeira, segunda, terceira, quarta e quinta posições. O livro faz uma descrição interessante de cada uma delas. Por exemplo, na primeira posição dos pés, o en dehors (a rotação para fora) deve vir desde os quadris e coxas, e não apenas dos pés. Informação simples, mas essencial.
Em seguida, é necessário saber como se colocar na barra. Quando de frente, mantenha as mãos bem em frente aos ombros, com os cotovelos para baixo. Quando de lado para a barra, posicione a mão de forma suave e um pouco à frente do corpo.
Finalmente, aprendidas as posições e as colocações, é hora de aprender os passos. Aqui o livro traz uma séries de passos elementares, do plié ao pas de deux, com descrição ilustrada de como executá-los. Também há uma breve explicação de vários deles no francês. Tendu, por exemplo, significa alongado.
A sapatilha de ponta tem páginas inteiras dedicadas ao seu estudo. Além de exercícios específicos de fortalecimento, há algumas notas sobre o material das sapatilhas e até sobre o breu, aquele pó branco que se usa para não escorregar. Como observado no livro, o breu é uma resina feita de uma árvore chamada abeto.
Uma dúvida muito comum no mundo do ballet é sobre a idade ideal para se iniciar os exercícios na sapatilha de ponta. Em Ballet: meu primeiro livro, a autora responde:
Você não deve tentar dançar nas pontas até seus pés e pernas estarem suficientemente fortes. Isso acontecerá provavelmente em torno dos seus 11 anos de idade e quando já tiver treinado cuidadosamente por vários anos.
Darcey Bussell
Além do ballet
Apesar de ser essencialmente sobre o ballet clássico, o livro também destaca outras formas de dança. Jazz, sapateado e dança contemporânea são pontuadas pela autora. O jazz, por exemplo, é usado em produções artísticas mundialmente conhecidas, como o musical Cats, de Gillian Lynne.
O livro também ressalta a existência das danças folclóricas, que são manifestações culturais de cada povo. Em se tratando de uma autora britânica, os exemplos são as danças escocesas e irlandesas. A respeito, ela afirma:
Coreógrafos gostam de introduzir danças folclóricas nos seus ballets para acrescentar-lhes cor e movimento e, ainda, para evocar o espírito de uma nação específica. Essa dança folclórica estilizada é chamada de dança à caráter.
Se pensarmos no Brasil, há uma variedade imensa de danças típicas que podem ser exploradas pelos coreógrafos: da dança gaúcha ao frevo, da capoeira ao maracatu, da quadrilha ao bumba meu boi…e muitas, muitas outras. Nesse aspecto, o Brasil tem muita vantagem na hora criar coreografias. <3
Espetáculo
Uma vez que a bailarina já sabe os passos e aprendeu a dançar, é hora de pensar no espetáculo. O livro salienta todo o trabalho que envolve um espetáculo de ballet, como ensaios, figurinos, cenários, música e enredo. De fato, não basta haver bailarinos. Uma boa apresentação requer o trabalho conjunto de bailarinos, coreógrafos, músicos, figurinistas, costureiros, técnicos de palco, cenógrafos, cada um com sua respectiva responsabilidade para criar uma bela apresentação.
O trabalho mal feito de qualquer desses agentes pode levar o espetáculo por água abaixo. Quem já viu a música falhar no meio da dança ou um figurino cair no meio da apresentação sabe bem do que estou falando.
Há ainda uma observação sobre a maquiagem. Com efeito, além de impedir que o rosto dos bailarinos fique demasiado pálido ou brilhante, a maquiagem realça a expressão, destacando olhos e boca, e também completa o figurino, transformando o bailarino no personagem que ele interpreta.
Notação Benesh
Uma das informações mais interessantes no livro – que eu confesso que não tinha conhecimento – é sobre a Notação Benesh. A Notação Benesh nada mais é do que um sistema padronizado de registrar uma coreografia.
Explico: até pouco tempo atrás, as coreografias eram passadas adiante apenas por meio da memória dos bailarinos e coreógrafos. Com isso, diversos ballets ficaram perdidos ao longo da História. Assim, para isso não acontecer mais, criou-se uma técnica chamada coreologia, que é a ciência de registrar uma coreografia por escrito em forma de partitura. A coreologia abrange várias formas de se fazer esse registro, e a mais conhecida é, justamente, a Notação Benesh.
A Notação Benesh é escrita em grupos de 5 linhas, como a pauta na partitura de música.
Cada linha da pauta representa uma parte do corpo, e símbolos mostram como cada parte se move durante a dança. Quando a notação é colocada por baixo de uma partitura, o movimento e a música podem ser lidos em conjunto. Eu achei genial, e vocês!?
Sobre a leitura
Ballet: meu primeiro livro é uma obra escrita por Darcey Bussell, ex-bailarina principal do Royal Ballet e hoje Presidente da Royal Academy of Dance (RAD). Além de trazer valiosas orientações e informações básicas sobre o ballet, no livro ela relata um pouco sobre sua própria experiência como bailarina.
Achei bem interessante ela acrescentar esse lado pessoal. Curiosidades como “preparo três ou quatro pares de sapatilha para cada espetáculo” e “eu uso fitas e elásticos para manter minha sapatilha bem segura no pé” reforçam os cuidados e ensinamentos que ela indicou no início do livro, de maneira a demonstrar que uma bailarina profissional segue todos eles à risca.
Como o livro é direcionado a crianças que estão iniciando o ballet, achei inteligente a autora se usar de exemplo e incentivo.
O conteúdo do livro, de modo geral, é bastante informativo. Felizmente, a grande quantidade de imagens evita que seja uma leitura cansativa. Aliás, elas também auxiliam muito na compreensão de cada tema e, em especial, no que diz respeito à técnica dos passos de ballet, demonstrados por bailarinos limpíssimos da Royal Ballet School.
A linguagem, como é de se esperar, é bem acessível. A autora se preocupou em não apenas traduzir os termos em francês, como também, em alguns momentos, explicar a intenção dos movimentos. Por exemplo, no battement frappé, ela explica que esse passo significa “atacar“, que seu movimento é rápido e enérgico e que ele ajuda a desenvolver força e flexibilidade na perna.
Não bastasse tudo isso, a autora ainda disponibiliza um glossário nas últimas páginas, onde elenca definições de diversos passos de ballet.
Uma característica bem marcante desse livro é a ênfase na expressão. Essa característica é, claramente, influência do método inglês de ballet clássico. Com efeito, quem já estudou um pouco sobre essa metodologia sabe que, para ela, a expressão tem importância vital. Um bom bailarino, para a RAD, não é simplesmente o que sabe os passos; o bom bailarino é o expressivo.
Não que outros métodos não deem importância para a expressão. No entanto, basta ler esse livro (escrito pela presidente da RAD) para notar que é até cansativo o tanto que a expressividade é levada em consideração. Frases como “execute com sentimento“, “dê espírito à sua pose“, “um bom trabalho de pontas deve ser expressivo” são extremamente recorrentes.
Para finalizar esse post (que já está ficando muito longo), um (outro) bom motivo para ler esse livro é a parte intitulada “assistindo ao ballet”. Nessa parte, a autora cita alguns ballets de renome e expõe brevemente sobre cada enredo. Essa visão geral acaba sendo uma aula de arte e história, com fotografias de companhias do mundo todo.
Aliás, para quem deseja ser bailarino profissional (ou para quem gosta de estudar ballet), o livro elenca uma lista com as principais escolas e companhias de ballet ao redor do globo. Vale a pena conhecer!
Bem, eu fico por aqui. Espero que tenha gostado.
Obrigada e até mais!
Ficha técnica
Título: Ballet: meu primeiro livro
Título original: The Ballet Book
Tradução: Denise Yumi Chinem
Editora: Manole
Ano: 2018
Autora: Darcy Bussell
Número de páginas: 68
ISBN: 9788520453889
Indisponível em e-book até o momento