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Como criar uma escola de ballet?

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Livro: “Uma Escola para a Vida”, da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil

Se tem um livro que desperta o sonho de carreira dos bailarinos, é “Uma Escola para a Vida”. O livro descreve com detalhes os 20 anos de existência da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, desde seu projeto, em 1995, passando pela sua inauguração, em 2000, até o ano de 2020, quando o livro foi publicado.

O livro já conta com um Prefácio de peso, escrito por ninguém menos que Vladimir Vasiliev, bailarino, coreógrafo e Patrono Fundador da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil. Ali ele relata com muito orgulho a importância cultural e social que a escola exerce sobre centenas de vidas.

Mas, Vasiliev também menciona uma preocupação, a de que os graduados na escola exerçam sua profissão no Brasil. Embora ele veja os bailarinos do Bolshoi Brasil dançando pelo mundo como um grande mérito (o que de fato é), Vasiliev sonha com a volta desses grandes artistas ao país, para desenvolverem a cultura aqui. Começar o livro com essas palavras já me prendeu na leitura.

Por que Joinville?

Mas afinal, por que o Bolshoi fica em Joinville? Eis a pergunta mais ouvida sobre o fato de a única Escola do Teatro Bolshoi fora da Rússia se encontrar na simpática cidade do Sul do Brasil. O livro responde a essa pergunta de duas maneiras: uma explicação curta e uma explicação longa.

Explicação curta

A história curta se encontra no final do livro, e é narrada por Ivete Appel da Silveira, esposa do prefeito de Joinville à época, Luiz Henrique da Silveira.

Segundo ela, o prefeito estava num jantar em sua casa com o diretor da Cia do Teatro Bolshoi, Alexander Bogatryrev, discutindo o projeto de disseminar a metodologia russa de ensino de ballet.

Aí, veio a pergunta: por que Joinville? E o prefeito da cidade respondeu: “Por que não Joinville? Nós temos o maior festival de dança do mundo, nós somos o centro cultural em Santa Catarina”! Com isso, Bogatryev concordou: “Da!”, que significa “Sim” em russo. E foi assim que tudo começou.

Sede da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, em Joinville.

Explicação longa

A explicação longa, por outro lado, se encontra logo na Apresentação do livro, e foi escrita por Valdir Steglich, Presidente do Instituto Escola do Teatro Bolshoi no Brasil.

Segundo ele, foi o olhar cultural do Prefeito de Joinville que permitiu a vinda da metodologia russa para sua cidade. Percebendo a oportunidade que o projeto de Alexander Bogatyrev oferecia, Luiz Henrique da Silveira incluiu Joinville na turnê da Cia do Teatro Bolshoi pelo Brasil. Com essa inclusão, os bailarinos russos se apresentaram no 14º Festival de Dança de Joinville, onde ficaram maravilhados com a receptividade do público e com a profunda ligação da cidade com a dança.

Além desse evento, outros fatores contribuíram para a vinda da escola Bolshoi para a cidade. Um deles foi o empenho do prefeito de ir até Moscou tratar do assunto pessoalmente com o diretor do Teatro Bolshoi, Vladimir Vasiliev.

Outro fator determinante foi a disponibilidade da área de 6.000 m² do recém-inaugurado Centreventos Cau Hansen para a instalação da escola. Todas essas razões permitiram que o grande projeto de exportar a metodologia russa para o Brasil fosse realizado.

Prefeito de Joinville, Luiz Henrique da Silveira, e o coreógrafo Vladimir Vasiliev.
Foto: site da escola Bolshoi.

Aliás, não fosse o prefeito de Joinville, provavelmente o Brasil ainda não teria uma escola de tanta importância como a do Teatro Bolshoi em seu território. Só o número de mais de 370 alunos formados na escola até hoje já revela a importância que a dança tem na vida das pessoas. Quantos bailarinos, quantas famílias, quanto o mundo já ganhou com a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil?

Fica aqui a mensagem do falecido prefeito de Joinville a todos os líderes brasileiros:

A cidade sem cultura é um mero depósito de gente, sem destino e sem futuro. – Luiz Henrique da Silveira.

Como desenvolver uma escola de ballet

Ao longo da leitura do livro, é possível extrair algumas características que compõem uma boa escola de ballet como a do teatro Bolshoi. Mas, como bem se percebe também, essas características são construídas ao longo do tempo, ou seja, uma boa escola não se faz do dia para a noite. Assim, durante a leitura, identifiquei alguns pontos interessantes, que poderiam servir de modelo para outras escolas de ballet pelo Brasil.

  • Valorizar a relação entre palco e sala de aula

Desde os primeiros anos da escola, o Bolshoi Brasil procura desenvolver a técnica de seus bailarinos por meio da relação entre palco e sala de aula. Em outras palavras, o aprendizado não fica restrito ao espaço da sala de ballet, ele é compartilhado com o público.

Assim, uma vez que o aluno percebe que as lições em sala têm aplicação prática – e, muitas vezes, diante de uma plateia numerosa – ele tende a buscar um melhor desempenho, e assim evolui como profissional.

  • Presença em apresentações nacionais e internacionais

Na mesma linha, o Bolshoi possui a própria companhia de dança e procura estar presente em apresentações nacionais e internacionais, de modo que os alunos se tornam cada vez mais experientes e a escola constrói seu nome por meio das conquistas de seus alunos.

  • Intercâmbio cultural

O Bolshoi também procura promover intercâmbio cultural, seja levando seus alunos a conhecer outras escolas pelo mundo, seja convidando bailarinos e coreógrafos reconhecidos para dentro da escola. Nesse sentido, nomes como Cecília Kerche, Natalia Osipova e Svetlana Zakharova aparecem na história do Bolshoi Brasil.

Espetáculo da Escola Bolshoi com os bailarinos russos Natália Osipova e Andrey Bolotin, na noite de Gala no 20º Festival de Dança de Joinville. Foto: site da escola Bolshoi.
  • Diversidade cultural

Outra característica do Bolshoi é a busca por diversidade cultural, tanto na procura por talentos de várias regiões e contextos diferentes como no ensino de diferentes modalidades de dança. Aliás, como bem se sabe, o Bolshoi não apenas ensina ballet clássico, mas também dança contemporânea, danças brasileiras e dança popular histórica.

  • Exercer o papel social

Por fim, mas não menos importante, uma boa escola de ballet deve exercer seu papel social. Na escola do Teatro Bolshoi, todos os alunos são bolsistas. Além disso, a escola está sempre engajada com apresentações beneficentes e outros projetos sociais, exercendo o poder transformador da dança.

Sobre altos e baixos

Uma curiosidade interessante sobre o livro é que ele também menciona momentos difíceis que a Escola Bolshoi passou durante sua jornada. Em 2004, a escola perdeu um grande patrocinador (não é dito qual exatamente, por uma questão ética), dando início a um período de crise econômica na instituição. Além disso, o livro também registra problemas com alguns dirigentes da escola, o que agravou a situação.

Para enfrentar esse momento delicado, em 2005 várias famílias e alunos do Bolshoi se mobilizaram no dia do aniversário de 154 anos de Joinville, pedindo apoio à escola. A mobilização virou notícia no jornal Folha de São Paulo:

Joinville se mobiliza para manter filial.

Em 2006, diante da crise econômica e administrativa na filial brasileira, o Teatro Bolshoi quis rever o contrato com Brasil. Para evitar o fim do Bolshoi em Joinville, Valdir Steglich assumiu a presidência do Conselho de Administração da escola, órgão responsável pelas finanças do Bolshoi, uma mudança que mais tarde se revelou acertada.

Em 2007, ocorreu mais uma mudança na administração da escola: o pianista Pavel Kazarian assumiu a Direção Geral do Bolshoi Brasil. Foi só então que, aos poucos, a escola recuperou patrocínios e pôde voltar a alavancar seus projetos.

Sobre a leitura

“Uma Escola para a Vida” é um livro muito rápido de ler. Como contém muitas fotografias, bastam algumas horas para devorar todas as páginas.

O livro é dividido em 20 capítulos, que representam cada ano de existência da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, desde 2000 até 2020. Essa organização histórica linear facilita a percepção de que o Bolshoi Brasil consolidou seu nome aos poucos.

Se alguém me perguntasse, diria que o objetivo do livro é ser uma grande vitrine da escola. Ainda assim, é uma leitura que vale a pena, por despertar muito orgulho e esperança.

O livro também emociona. Fiquei comovida com as homenagens a Luiz Henrique da Silveira e Galina Kravchenko. Também gostei de ler as histórias de superação dos alunos. São histórias curtas, mas que revelam como a dança pode mudar vidas.

Devo dizer, porém, que há alguns erros de português que me incomodaram um pouco, especialmente no que diz respeito ao uso de vírgulas (não se separa sujeito de verbo com vírgulaaa!!). Apesar disso, são erros pontuais, que não prejudicam a leitura no todo. Quem sabe fica melhor numa segunda edição?

Recomendo muito esse livro para quem é, foi ou deseja ser aluno da escola, mas também para donos de escola de ballet e para pessoas que se interessam pela arte de forma geral.

Ficha técnica

Título: Uma Escola para a Vida

Editora: Manuscritos Editora

Ano: 2020

Autor: Organização Escola Teatro Bolshoi no Brasil

Coordenação Editorial: Bernadéte Costa

Jornalista Responsável – Pesquisa: Albenize Ballen Bruno

Projeto Gráfico: Adriana Reis

Textos: Akbenize Ballen Bueno e Bernadéte Costa

Revisão: Ivone Jacy Moreira

Tradução: Central de Traduções & Global Languages

Foto Capa: Cleber Gomes

Curadoria: Valdir Steglich, Pavel Kazarian e Célia Campos

Número de páginas: 376

Edição bilíngue: português e inglês

ISBN: 978 859 279 1483

Indisponível em e-book até o momento

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