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Qual é a história de Michaela DePrince?

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Livro: “O Voo da Bailarina: de órfã da guerra ao estrelato”, de Michaela e Elaine DePrince

O primeiro post não poderia ser outro. “O Voo da Bailarina” é o livro que toda bailarina e todo bailarino deveriam ler. Aliás, qualquer pessoa, sendo do mundo da dança ou não, deveria ler. Para quem ainda não conhece Michaela DePrince, vou resumir aqui rapidamente como essa bailarina maravilhosa começou sua história.

“O Voo da Bailarina” é a incrível biografia de Michaela DePrince. Michaela, ou melhor, Mabinty Bangura, como era chamada, nasceu na Serra Leoa, na África, numa família feliz. Seus pais a amavam muito e, apesar de Mabinty ser uma menina, eles a incentivaram a estudar, o que era algo incomum na sociedade em que viviam. Com apenas 3 anos de idade, Mabinty já falava mende, temne, limba, krio e árabe.

Mas, uma guerra civil atingiu o país. Uma das vítimas foi o pai de Mabinty. Isso tornou Abdullah, o tio violento de Mabinty, o tutor dela e de sua mãe Jemi, conforme dizia a Sharia, a lei muçulmana. Viver na casa de Abdullah era terrível. Ambas sofriam agressões e passavam fome. Então, enfraquecida, Jemi pegou Febre de Lassa, uma doença comum na África Ocidental, e faleceu. Mabinty era uma menina órfã.

Abdullah atribuiu a doença e a morte de Jemi às manchas de Mabinty. Mabinty nasceu com vitiligo, uma doença autoimune que deixa manchas na pele. Abdullah rejeitava a aparência de Mabinty e temia que ela não lhe desse nenhum dote. Segundo ele, ninguém se casaria com uma menina feia como ela. Então, ele decidiu abandoná-la num orfanato.

No orfanato, Mabinty sofreu maus tratos. Era diariamente agredida, passava fome e também sofria preconceito por suas manchas. Porém, um dia, uma rajada de vento e poeira lhe trouxe uma revista. Em uma de suas páginas, estava a foto de uma moça branca usando uma saia rosa, parada na ponta de um dos pés. Mabinty analisou e percebeu que a moça da foto estava dançando. Então, disse:

“Um dia vou dançar na ponta dos pés como essa moça. Vou ser feliz também”.

Michaela DePrince na infância.
Capa da revista Dance Magazine, de maio de 1979, com a bailarina Magali Messac, estrela do Pennsylvania Ballet à época.

Para não dar muito spoiler, porque a partir daí tem muitos detalhes relevantes na história, só vou contar que eventualmente Mabinty foi adotada por uma família americana. Mabinty Bangura passou a se chamar Michaela DePrince.

Poucas horas depois de conhecer Elaine, sua nova mãe, Michaela mostrou a ela a foto da bailarina na revista, que guardava consigo desde o dia em que a achou. Elaine entendeu o desejo de Michaela de imediato:

Minha mãe colocou as mãos sobre meus ombros. Muito lentamente, ela disse: “em casa, nos Estados Unidos, você vai dançar.

Hoje, muitos anos depois, Michaela DePrince é solista no Boston Ballet.

Sobre a leitura

Em se tratando de livros de ballet, esse é meu preferido. Não há história mais envolvente e emocionante do que a biografia de Michaela DePrince.

A leitura flui com facilidade, embora contenha cenas difíceis e dolorosas. De fato, a infância de Michaela revela muito sobre a realidade de famílias que vivem expostas à violência. E, mais do que isso, também mostra como a perda de um ente querido pode nos deixar quase sem rumo. Michaela cria no leitor um forte sentimento de empatia.

O livro também relata como Michaela lidou com o preconceito. Por ser uma bailarina negra, Michaela sofria com sua aparência. Ouvia de pessoas racistas que ela não poderia ser uma bailarina em razão de sua cor e de seu tipo físico. Felizmente, Michaela aprendeu com o tempo a ignorar a inveja e a intolerância dessas pessoas. E hoje, aí está ela, brilhando nos palcos do mundo!

A biografia de Michaela também contém cenas belas e alegres. Uma das mais bonitas está no capítulo “O Aniversário dos Enlatados“, quando Michaela estava prestes a completar 8 anos de idade. Em vez de pedir presentes de aniversário, Michaela pediu que seus convidados lhe dessem alimentos enlatados. O resultado foi a arrecadação de quase uma tonelada de comida (!), quantidade que foi toda doada para pessoas que passavam fome.

Também há momentos no livro em que Michaela, através de suas experiências, ensina valiosas lições sobre a carreira do ballet. O capítulo “Dançando o Quebra-Nozes“, por exemplo, ressalta que devemos agradecer pelas oportunidades que nos são oferecidas, mesmo que elas não venham maiores ou mais pomposas como imaginávamos que seriam.

Enfim, acima de tudo, o livro “O Voo da Bailarina” me fez pensar na quantidade de crianças no mundo que não tiveram a mesma chance que Michaela teve de encontrar a felicidade na arte. Seja no Brasil, em Serra Leoa ou em qualquer outro país, há milhares de crianças no planeta em situação vulnerável em decorrência de guerras e abandono. A biografia de Michaela DePrince nos lembra que sempre podemos fazer alguma coisa para ajudar.

Ficha técnica

Título em português: “O voo da bailarina: de órfã da guerra ao estrelato”
Editora: BestSeller
Ano: 2016
Acabamento: brochura
Título original: “Taking flight: from war orphan to star ballerina”
Autoras: Michaela DePrince e Eliane DePrince
Tradução para o português: Sandra Martha Dolinsky
Número de páginas: 189
ISBN: 978-85-7684-979-7
Disponível em e-book

Mais sobre Michaela DePrince

Além do livro, há diversas outras formas de conhecer a história de Michaela DePrince (embora, devo ressaltar, o livro é imperdível):

  • Documentário: First Position

Esse documentário relata a vida de Michaela, além de outros bailarinos. Muito interessante até para quem não liga para ballet, como se observa dos comentários do filme. Em First Position há entrevistas, bastidores, momentos de felicidade e de angústia dos bailarinos. Um deles, por exemplo, é o momento em que Michaela correu o risco de ser eliminada do Youth American Grand Prix (YAGP) por conta de uma lesão. Filme premiado lá fora, foi inclusive indicado ao NAACP Image Award. Atualmente está disponível no Amazon Prime Video. O trailer pode ser visto pelo YouTube.

  • Palestra TEDx Talks

Nessa palestra Michaela conta sua história e analisa por que ela não pode ser considerada um conto de fadas. Mais do que isso, é uma forma de ouvir da própria Michaela como a dança e o desejo de ser feliz podem transformar vidas. Eu já assisti inúmeras vezes. Chorei em todas. Recomendo.

  • Site

Michaela tem uma página na web onde ela compartilha não apenas sua história, mas também sua carreira e projetos realizados. Na aba “War Child” você descobre que ela é hoje embaixadora do War Child Holland, uma organização que visa ao bem-estar de crianças no mundo todo que vivem em meio à violência e conflitos armados. Vale a pena a leitura. O site é bem organizado e traz diversas imagens dessa bailarina incrível.

  • Redes Sociais

Por fim, como a maioria das bailarinas hoje, Michaela também é uma artista conectada. Em seu perfil no Instagram, em sua página no Facebook e em seu canal no YouTube é possível acompanhar sua rotina como bailarina e ativista. Depois de ler a biografia de Michaela, é quase certo que você vai dar uma curtida.

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Já conhecia a história de Michaela? Já leu “O Voo da Bailarina”? Gostaria de conhecer outras biografias de bailarinas? Comente aqui!

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